Fé
Presépio de Natal sob um novo olhar
Presépio feito a partir de materiais recicláveis, no Santuário de Adoração, pretende alertar a sociedade sobre a situação de menores de rua em Pelotas
Jô Folha -
É costume em várias culturas e igrejas ao redor do mundo construir um presépio na época em que o Natal se aproxima. No Santuário de Adoração, igreja na rua 7 de Setembro, 145, essa tradição foi completamente repaginada pela gestão e por fiéis.
O padre Plutarco Almeida, reitor da igreja, em parceria com religiosos do Santuário, montou um presépio a partir de materiais recicláveis, com símbolos que remetem às crianças em situação de vulnerabilidade social. A construção traz elementos presentes no dia a dia dos menores de rua, como caixas de sucos, de papelão e latas, além de lonas, como as que cobrem moradias precárias em pontos marginalizados pela cidade. O menino Jesus está coberto por um jornal, dentro de uma caixa de papelão, abrigado por uma estrutura de madeira e lona. No entorno do presépio, fotografias de Nauro Júnior revelam a vida das crianças de rua em Pelotas, ao redor de sacos de lixo reciclável.
A função do presépio é chamar atenção para essa ferida. A expectativa é de que quem visite a igreja se depare com o presépio e, a partir da reflexão, escolha pela mudança de atitude em relação ao problema. "Os governantes e a população vão se acostumando. A gente começa a achar que isso é normal, mas não é", afirma o religioso.
O presépio, referência cristã que remete ao nascimento de Jesus em Belém, para o padre é tradicionalmente imbricado de materiais ricos. "O presépio que nós conhecemos é muito glamourizado, higienizado. O evangelho narra claramente quais foram as circunstâncias que Nossa Senhora deu à luz. Não tinha lugar nas hospedarias e eles tiveram que se abrigar no campo, onde os animais dormiam. O filho de Deus nasceu nas piores condições, onde vivem também muitas dessas crianças", relaciona.
O jornal enrolado no menino Jesus também carrega significado. "Há 50 anos, os bebês que nasciam na Santa Casa eram tão pobres que as mães não tinham como vestir as crianças. Elas iam pra casa enroladas no jornal", conta Plutarco. Questionado a respeito dos fatores que levam os menores a essas circunstâncias, o religioso aponta a falta de acesso à educação. "É escola. Não adianta discutir Pacto pela Paz. Existe um pacto anterior, que é o pacto pela educação. Estou convencido que a rua é a escola do crime, que leva às drogas, à violência e tudo o mais. Lugar de criança é na escola e não em cima de uma carroça recolhendo lixo. Isso é um crime", manifesta.
As estrelas verdes no meio do lixo mostram que a esperança pode nascer dessa situação, na medida em que as pessoas, as entidades e as administrações públicas direcionem esforços para reverter esse cenário. A missa de Natal, no dia 24, às 17h, também será inspirada pela temática. Após o período natalino, os materiais do presépio serão doados para reciclagem.
Carregando matéria
Conteúdo exclusivo!
Somente assinantes podem visualizar este conteúdo
clique aqui para verificar os planos disponíveis
Já sou assinante
Deixe seu comentário